01/07/2017

Algumas pessoas precisam ler isso. Por favor, envie para todos que puderem. | Bea Oliveira.

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Você pode achar que todos que se cortam querem chamar atenção ou que todos que se cortam são suicidas. Mas você está errado. É claro que alguns querem atenção e que alguns são suicidas, mas é mais complexo que isso. Muito mais delicado. Você não pode e não deve falar nada até ser a pessoa com a lâmina na mão, até entender de verdade o que esses cortes significam, até entender a necessidade que eles se tornam. Então por favor, eu vou tentar explicar e você precisa tentar entender.
Há aqueles que usam os cortes como um grito de socorro. Esperando que alguém note, que alguém os ajude. Eles precisam de um pouco de atenção e carinho para verem que não estão sozinhos. Eles precisam de amor e estão implorando por ele.
Para muitos, os cortes fazem o coração parar de sangrar, fazem parar uma dor que não conseguem compreender e lidar tão bem quanto a dor física. É a substituição de uma dor pela a outra.
Para outros é a fuga de sentimentos muito fortes. Quando se está com muita raiva, muito triste, muito ansioso, muito vazio, muito decepcionado, muito tudo e simplesmente não se consegue lidar, não consegue sentir tudo. Aquele corte é a sua válvula de escape.
Para os que querem morrer, os cortes são a salvação, o que os mantém ali mais um dia, mais uma hora, mais um minuto. É o que precisam fazer para algo muito pior não acontecer. O corte é seu porto seguro.
Alguns sentem que precisam se punir por não serem como queriam. Na verdade, por não serem como a sociedade os fez acharem que precisam ser. Por terem comido demais, tirado uma nota baixa, por aquele número na balança, por ter magoado alguém ou por ter se deixado ser magoado. Eles se cortam para se punir por serem como são.
Para outros é um vicio. Eles precisam ver o sangue pingar, precisam sentir a lâmina rasgando a pele, precisam observar aquele momento em que o corte fica branco antes de se encher de gotinhas, precisam segurar o metal frio entre os dedos e precisam sentir o controle. Eles se tornam dependentes.
Para outros, o vazio é tão imenso, tão doloroso, tão entorpecente que eles não sabem se conseguem mais sentir algo, não sabem se ainda possuem essa capacidade. Então eles se cortam para ter o grande alívio de sentirem dor. Eles veem que eles sentem e precisam desse lembrete.
Cortes são tão mais do que pode se imaginar. Aquelas linhas brancas são histórias escritas. Histórias de dor que não se pode contar em voz alta. Agora o mais importante: se alguém teve coragem de te contar que se corta, por favor, não o abandone. Abrace-o o mais forte que conseguir e admire sua coragem. Porque o medo de contar é absurdo, e ser rejeitado, julgado e largado por isso, vai destruir essa pessoa. E se isso acontecer ela nunca mais vai conseguir contar isso a ninguém. Talvez nunca mais se abra. Talvez nunca mais seja a mesma. Então por favor, cuidado, não machuque mais ainda alguém que já está quebrado, não pergunte o porquê, não faça ultimatos. E o mais importante: não tente concerta-lo. Ele só precisa ser compreendido, só precisa que alguém o ame apesar de tudo, que alguém se sinta livre para falar sobre esse segredo, que alguém fique.
E é por isso que estou te contando. Talvez isso previna que você destrua alguém que precisa ser salvo. Talvez isso previna que alguém faça mais um, dois, uma dezena de cortes. Talvez isso previna que mais um coração se torne de pedra. Talvez isso previna dor.
Então cuidado.
E, você. Você que usa um milhão de pulseiras, você que não tira o casaco mesmo no maior calor, você que não usa biquíni, você que está consciente de cada movimento, que gela quando alguém quer olhar algo específico em você. Você que compartilha essas cicatrizes, eu te entendo, e há muitas pessoas que te entendem sem você precisar se explicar. Você não está sozinho nessa.
Algumas pessoas precisam ler isso. Por favor, envie para todos que puderem.
- Poxa, Bea.

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